domingo, 8 de julho de 2012

Dar e Deixar

Dar e Deixar

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Quando Cirilo Fragoso  bateu às portas da  Esfera Superior e foi atendido por um Anjo que velava, solícito, com surpresa verificou que o seu nome não constava  entre os esperados do dia.
–Fiz muita  Caridade –  alegou, irritadiço –,  Doei quanto pude.
Protegi os  Pobres e os Doentes,  Amparei as Viúvas  e os Órfãos.
Quanto fiz lhes pertence.
Oh! Deus, onde  a  esperança dos que se entregaram às Promessas do Cristo?
Fragoso traduzia o próprio pesar com a boca, no entanto, a Consciência, como que     instalada  agora em seus ouvidos, instava com ele a recordar.
Inegavelmente, amontoara vultosos bens.
Atingira grande êxito nos negócios.
Não conseguira visitar pessoalmente  os necessitados, porque o tempo não  lhe chegava cada dia, na laboriosa tarefa de preservação da própria fortuna, jamais obtivera folgas para ouvir  um necessitado, nunca  pudera dispensar um minuto  às  mulheres  infelizes  que lhe recorriam à casa, entretanto, prevendo a morte  que se avizinhava, inflexível,  organizara generoso testamento.
E  assim, agindo à pressa, não e esquecera  das instituições piedosas das quais possuía vago conhecimento,  inclusive  as  que ele pretendia  criar.
Por isso, em quatro  dias  doou as todas com expressivos recursos, encomendando-se-lhes  às  preces.
Não se desfizera,  pois, de tudo, para exercer  o auxilio ao próximo?
Não  teria  sido, porém, mais aconselhável praticar a beneficência,  antes da    atribulada viagem para o túmulo?
Notando que o Coração e a  Consciência  duelavam dentro dele, rogou  à entidade angélica  tornasse em consideração  a  legitimidade das suas demonstrações de virtude, reafirmando que a caridade por ele  efetuada deveria ser passaporte justo ao acesso ao paraíso.
O Benfeitor Espiritual  declarou respeitar-lhe  o argumento, informando, porém, que só mediante provas tangíveis  advogar-lhe-ia  a  causa, junto aos  poderes celestes.
Trouxesse Fragoso a documentação  positiva daquilo que verbalmente apontava e defender-lhe-ia  a  entrada no paço da eterna luz.
Cirilo deu-se pressa em voltar à terra e, aflito, extraiu as notas mais importantes, com referência aos legados  que fizera  às  associações pias,presentes e futuras, nas derradeiras horas do corpo, e retornou  à presença do     amigo espiritual, diante de quem  leu em voz  firme  e confiante:
Para os Velhinhos de diversos  refúgios, deixei quatrocentos  mil cruzeiros.
Para os  Doentes de várias agremiações, deixei oitocentos mil cruzeiros.
Para a instalação de um Hospital  de câncer, deixei seiscentos  mil cruzeiros.
Para a fundação do instituto São Damião, em favor dos leprosos, deixei trezentos  mil cruzeiros.
Para  a assistência à Infância desvalida,  deixei quinhentos mil cruzeiros.
Para meus empregados, deixei quatro casas e  seis lotes de terras, no valor e um milhão e duzentos mil cruzeiros.
Terminada a leitura, reparou que o anjo não se mostrava satisfeito.
Em razão disso, perguntou, ansioso:
Não terei cumprido,  assim, os preceitos de Jesus?
O interpelado, porém, aclarou, triste:
Fragoso,  é  preciso pensar.
Segundo o Evangelho, Bem-Aventurado  é aquele que dá com alegria.
Mas, realmente, você não deu.
Suas anotações não deixam margem a qualquer dúvida.
Você simplesmente deixou.
Deixou, porque não podia trazer.
E porque Cirilo entrasse em aflitiva expectação,  Anjo rematou:
Infelizmente,  seu  lugar, por enquanto, ainda não é aqui.
De conformidade com  os ensinamentos do Mestre Divino, onde situamos o  tesouro da nossa vida aí guardaremos a própria alma.
Seu testamento não exprime Libertação.
Quem  dá, Serve e Passa.
Quem  Deixa, Larga provisoriamente.
Você  ainda não se exonerou das responsabilidades para com o dinheiro.
Volte  a mundo e ampare aqueles a quem você confiou os bens que lhe foram emprestados pela Providência Divina e, ajudando-os a usá-los na Caridade  Verdadeira, você conhecerá, com experiência própria, o desprendimento da  posse.
A  morte obrigou-o a deixar.
Agora, meu amigo, cabe-lhe  exercitar a ciência de Dar com Alma  e Coração.
Foi assim que Cirilo Fragoso, embora acabrunhado, regressou à esfera dos homens, em espírito, para Aprender a Beneficência com  Alicerces na Renúncia.


Fonte: Blog Espírita

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